Naquele fim de tarde quase anoitecendo, a
cidade ja estava silenciosa, ou pelo menos nos bairros mais afastados do
centro, mas também era de se esperar, com a onda de assaltos que assustaram a
pequena cidade de Patos.
Foi um dia puxado para a polícia, vários
assaltos a pequenos mercados, arrombamentos de caixa, entre outras coisas que
tiraram o sossego da cidade.
Eline é a comandante da guarnição, junto com
ela na viatura estava o sargento Thiago, e no volante o soldado Igor. Eles
passavam por ruas silenciosas, um silencio que poderia ser quebrado a qualquer
instante, os únicos sons escutados aquela noite eram cachorros latindo para
gatos que ficavam em cima do muro.
-Viatura 141 - a voz de Thay saiu do radio
-Tenente Eline na escuta, prossiga - Eline respondeu triste, ja pensando
no que seria
-Tentativa de assalto na rua Antonio Felix,
próximo ao salão de barbeiros - Thay falou com a voz meio tremula
Aquele endereço correspondia ao endereço da
Tenente Eline
-VAMOS IGOR - Eline gritou alto dentro do carro -, RAPIDO
-Sim senhora - Igor acelerou muito, eles estavam a poucas ruas do
ocorrido
Chegando próximo ao local, de longe já viram a
casa de Eline aberta e com as luzes apagadas, Ela não esperou nem o carro parar para sair e ir
correndo até o portão. Dentro estava tudo escuro e silencioso. Eline passou a
mão no disjuntor, as luzes se acenderam.
"SURPRESAA" muitas vozes soaram ao
mesmo tempo, sua mãe, seus amigos, inclusive seus parceiros de patrulha que
vinham logo atrás.
Era aniversario de Eline, e ela não sabia se
sorria ou se matava todo mundo pelo susto pregado.
-
Feliz Aniversario amiga - Betha é sua melhor
amiga, deu um grande abraço, o presente estava em suas mãos
-
Obrigado Betha, Quase me mataram de susto -
Eline soltou o abraço e falou se virando pra suas costas e viu o sargento
Thiago rindo acompanhado do soldado Igor - Vocês sabiam né?! Esse tempo todo
-Deu certo Thay - Thiago falava com Thayrone no Radio -, ela caiu
direitinho.
Eline fez questão de cumprimentar todos que
estavam em sua casa, não era facil trabalhar no dia do aniversario. Lá estavam
alguns amigos, inclusive seu amigo cientista Vitor, que trabalha no laboratorio
da cidade.
-Vitor, quanto tempo - Eline estendeu sua mão -, Muito trabalho?
-Oh sim, alguns colegas estão
trabalhando com experimentos em animais, um tipo de crescimento de células
independentes – Vitor é o tipo nerd, que gosta de explicar tudo - mas nada que
eu tenha me aprofundado
- Ah,
Bons estudos então - Eline balançou a cabeça positivamente sorriu, e saiu em
direção aos outros da festa
Pessoa por pessoa ela cumprimentou um a um, mas
era noite de trabalho, ela não poderia se dar ao luxo de ficar alí, mesmo que
quisesse, ela tem um bairro pra manter a segurança. Passou por sua mãe, beijou
sua testa e se despediu do pessoal
-Xau pessoal, comemorem por mim,
mais tarde eu volto ainda - Eline entrou no carro em seguida com Igor e Thiago
Logo depois
Igor que por sinal continuava comendo doces.
Naquele momento ela respirava aliviada, não era mais uma ocorrência, era apenas
seu aniversario, todo mundo tinha a pegado de surpresa.
Enquanto os minutos vão se passando a cada
momento Igor perguntava se não poderia voltar pra festa mesmo que seja pra
pegar uns doces, mas o tanque da viatura estava esvaziando e era o
suficiente pra chegar no posto pra abastecer.
A maioria dos postos estavam fechados, só havia
um vinte e quatro horas aberto, e foi pra lá que eles foram. Ao se aproximar do
posto haviam dois jovens em atitude suspeita, postos eram alvos
faceis para os bandidos.
- Vai devagar
Igor - Sargento Thiago falou do banco de traz - apaga as luzes de identificação
Igor cumpriu a ordem, olhando para aqueles dois montados em bicicletas indo em
direção ao posto.
Um dos bandidos desceu da bicicleta e foi e
tirou uma arma da cintura, correu em direção ao caixa do posto e apontou a arma
na cabeça do frentista.
Eline mandou igor ligar a cirene pra intimidar
os bandidos, mas o que ficou pra traz tambem puxou a arma, e apontou na direção
da viatura.
- ARMA
NO CHÃO - Thiago saiu gritando da viatura - ARMA NO CHÃO AGORA
O bandido disparou um tiro em direção a eles,
porém pegou no retrovisor, o outro que estava no posto pegou o frentista de
refém. Imediatamente Eline também saiu correndo do carro pra se abrigar atras
de uma arvore.
"POW POW"
Thiago não errou os tiros que acertaram em
cheio o primeiro bandido, já o que estava no posto atirou na cabeça do
frentista.
Eline saiu de traz da arvore e deu 3 tiros no
bandido, errou 2 tiros, mas o ultimo foi fatal, acertou o bandido em cheio.
Igor continuava no carro, ainda se protegendo,
abaixando a cabeça, enquanto Eline e Thiago examinavam a situação.
-É temos três mortes - disse Eline
-Esses dois eram menores de idade - afirmou Thiago
-Nós podemos alegar que eles atiraram primeiro
-Claro que podemos
-Inclusive...
BOOOOOOM
O posto esplodiu, os tiros que Eline pegou em
uma bomba de gasolina, Thiago e Eline foram jogados longe, tudo era fogo, tudo
caiu, tudo se apagou.
O caos tomou conta das ruas, pessoas
desesperadas correndo por todos os lados, a cidade toda estava apagada, um
incêndio de proporções jamais vista, alguma coisa tinha explodido junto com
posto, a humanidade.
Um ano depois.
Igor dirigia veloz o carro que um dia foi da
policia, não havia movimento nas ruas, prédios completamente abandonados, casas
entreabertas, carros amontoados, alguma coisa mudou desde então, Patos não
parecia a mesma, mais silenciosa, ruas inteiras livres de transito, não havia
mais sinais de celulares nem energia elétrica.
O carro parou por alguns instantes, era o ponto
marcado da equipe que estava e missão por buscas de suprimentos. Pouco tempo depois
entraram três pessoas no carro, outro carro vinha logo atrás, a equipe “A” e a
equipe “B” estavam juntas, já estava tarde era hora de partir.
A noite caiu enquanto os carros
ainda estavam na estrada, até eles saírem da cidade para a rodovia federal em
direção a comunidade, que ficava alguns quilômetros a frente.
“Comunidade de Santa Gertrudes” a
placa indicava que eles tinham chegado, um muro alto de madeira, com cercas e guaritas. Quando os
portões se abriram e os carros passaram.
-Igor, tudo certo? – Thiago foi em sua direção
-Sim, demoramos um pouco mas nada de mais – Igor respondeu dando tapinhas no braço de
Thiago
-Conseguiram muita coisa? – Thiago perguntou
-Sim Thi – Jacq respondeu saindo
do banco da frente do carro -, se bem que é difícil encontrar mantimentos bons,
já que a porra dos alimentos parou de produzir
-Pois é – Jorge saindo do banco
de traz, falou com cara de poucos amigos, enquanto Marcio também saia pelo outro
lado.
-Luiz, ocorreu tudo bem lá? – Thiago se direcionou
para o carro B,
-Nos encontramos no ponto
combinado, os mortos devem ter se concentrado em outro ponto da cidade – Luiz patrulhava em um carro mais
silencioso, para não atrair tanto a atenção.
Fazia parte do carro B, verificar
outros pontos que possam ser verificados nas próximas viagens, enquanto isso
esvaziavam o carro A, muitos quilos de alimentos foram tirados, e levados
para dispensa.
Jorge e Marcio sentaram nos
bancos a frente da longa rua, acenderam um cigarro cada um, Jorge cuspia algo
que parecia sangue, fumando alguns cigarros que encontrava pela cidade, desde
que chegou a comunidade ele fumou muito mais, pelo menos de cigarros por dia
-Não preciso nem dizer que você te que para de fumar –
Thiago falou
-Por que eu pararia de fumar? – Jorge respondeu – que
diferença faz se eu viver ou morrer?
Se eu tiver que viver com a morte
batendo na minha porta, prefiro morrer fazendo o que eu quero
-Tudo bem, tudo bem – Thiago não
gostava da idéia, mas respeitava sua escolha -, só espero que se cuide
Marcio continuava ali observando
os dois falarem e olhando para aquela poça de sangue.
No outro dia Lucas assumiu o muro
oeste, era muito cedo, foi mais uma noite tranqüila, as pessoas La em baixo
estavam tomando café da manhã, Eline passeava com seus cachorros, junto com sua
amiga Betha, em outro local, Thay preparava a churrasqueira.
Em fim, era uma manhã comum para
a comunidade, Lucas mirou longe em direção a mata vasculhando o perímetro, algo se movia em sua
direção, lento e morto, aquele pedaço de carne podre andando deveria ter saído
de sua horda, ou deve ter morrido sozinho. Lucas atirou na cabeça do zumbi, sua
arma com um silenciador acabara com o único zumbi daquela semana.
Horas mais tarde o churrasco do
Thay já estava quase pronto, o cheiro de carne estava no ar, parecia delicioso,
logo todo mundo estava fora de casa, varias mesas estavam nas calçadas.
-Pessoal, lembrando que a carne
tem que ta bem assada – Thay sempre alertava para possíveis infecções, que as
carnes que trouxeram de frigoríficos abandonados
-Thay, está perto? – Igor perguntou
-Quase, espere só mais um pouco – Thay respondeu
-Poxa, to com uma fome do caralho – Igor falou
passando a mão na barriga
-Ei cara – Jorge chamava a
atenção do Igor -, vem aqui comigo, preparei o almoço mais cedo, vem comer
comigo
-Claro, vamos – Igor se juntou com Jorge e entraram na
casa
Lá dentro as panelas estavam à
mesa, Jorge foi em direção aos pratos e serviu uma porção de feijão com pedaços
de carne que ele tinha pego mais cedo.
-Deve ta bom isso – Igor falou olhando para o prato
cheio – você não vai comer agora?
-Não, to sem fome – Jorge sentou no sofá da sala,
enquanto Igor atacava o prato
Jorge tossiu e sangue saiu da sua
boca direto pro chão, ele estava muito mal, tossia mais a cada instante, e
olhava pro jeito como Igor comia aquela comida. Jorge pegou um pedaço de papel e
escreveu algumas coisas.
-PESSOAL, O
CHURRAS TA PRONTOOOOO – Thay alertou a todos
que o almoço ia
ser
servido
-Opa, ainda bem não agüentava mais – Betha foi a
primeira a sentar nas cadeiras para o
almoço.
Em seguida todos estavam às mesas
com exceção de Igor e Jorge que continuava dentro de casa, mas todo mundo já estava comendo, Eline
sentada do lado de sua mãe, seus cachorros comendo as rações, e todos estavam
bem, Lucas elogiava o Thay enquanto Thiago comia pedaços de carne.
Jacq resolveu ir atrás dos dois
que faltavam, ela passou primeiro pela casa do Igor que não havia ninguém,
depois foi na casa do Jorge. Jacq bateu na porá varias vezes antes de entrar.
-Jorge, vamos – ela
falou olhando pra ele ali deitado no sofá – estão todos almoçando Jorge não
respondeu, no banco perto de onde ele estava, tinha um bilhete
“Desculpem, eu não consegui morrer
sozinho”
Jacq estava vendo seu corpo,
percebera naquela hora que ele não respirava mais, um frasco de veneno estava
em sua mão direita, e ao olhar para o lado, viu Igor, com a face sobre o prato,
as mão soltas, ele estava morto.
Escorriam lagrimas no rosto da Jacq, Igor
estava morto, Igor recrutou a maioria do pessoal que havia alí, inclusive ela.
Ela chorou, sem saber o que fazer, aqueles corpos se reanimariam, ela tinha que
acabar logo com isso, pegou sua faca e cravou na cabeça do Jorge pra que ele
não reanimasse depois ela foi em direção ao corpo do Igor, mas algo estava
estranho dentro dela, ela não conseguiria, aquele que um dia foi o Igor,
voltava a respirar, mas de sua boca não saía nada mais do que simples
grunhidos.
Jacq saiu chorando da casa, trancou a porta e
foi em direção aos outros, Betha percebeu o choro, e logo se adiantou, elas
deram um abraço longo
-Oh amiga, o que aconteceu? - Betha perguntou baixinho no ouvido
Mas Jacq só mostrou o bilhete e o frasco de
veneno, Betha viu que algo se mexia la dentro, algo estava na porta.
-O Jorge trouxe esse veneno da nossa ultima
varredura na cidade - Jacq agora conseguia
falar, mas ainda com a voz triste - ele escreveu que não conseguia
morrer sozinho.
Quando os outros perceberam as duas conversando
e perseberam que havia algo errado com a Jacq, Lucas, Thiago e Eline se
aproximaram
-Jacq, o que houve? - Lucas perguntava antes de chegar até ela
-Jorge se matou - Betha respondia por ela
-E vc acabou com ele? - Lucas de novo fazia uma pergunta
-Sim - respondeu balançando a
cabeça - mas não é só isso Houve uma pausa, ela finalmente falaria o que
aconteceu
-Ele matou o Igor - Jacq voltou a chorar
Os outros também sentiram uma forte angustia
por dentro, Eline e Thiago se abraçaram, Igor foi parceiro dos dois nos tempos
de policia
-Ele ainda ta la dentro, ele se transformou -
Jacq apontava para a casa - eu não consegui acabar com ele
Mesmo com lagrimas nos olhos, Lucas foi em
direção a casa. Quando ele abriu a porta, de dentro da casa saía um Igor
zumbificado, todo mundo estava vendo aquela cena.
Lucas acabou com seu sofrimento, com uma faca
cravada na cabeça, aquele que um dia foi o Igor, caía no chão.
Mais Tarde, os corpos estavam enrolados em
lençóis, em cima de pedaços de madeira do lado de fora na comunidade.
Eline havia escrito uma dedicatória, e antes que
o corpo fosse cremado, ela começou a ler
"Durante
um tempo fui a comandante dele, não conheci um soldado mais leal que ele, nem
sei se ainda vá nascer algum. Ele nos salvou do fogo que quase nos matou, ele
nos levou até o hospital para sermos tratados, ele trouxe a maioria de nós pra
cá. Igor se foi, mas ficará pra sempre em nossos corações"
Marcio só observou, ele tbm tinha sido
recrutado por Igor, assim como Jorge, ele levantou a mão.
-O jorge era meu amigo, viemos pra ca juntos -
Marcio também estava com os olhos lacrimejando - quando tudo começou ele ja
tinha pensado em suicídio.
-Ele teve que levar a pessoa que o trouxe pra ca - Thiago falou triste
-Ele tava com câncer no pulmão - Marcio deixou as lagrimas caírem dos
seus olhos.
Thay tocou fogo na fogueira, o fogo começou a
queimar a madeira e os corpos que ali estavam. Aos poucos o fogo consumiu tudo,
em minutos tudo era cinza,
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